Depois de identificado o valor da Biodiversidade, e diversidade existente de flora e fauna, obriga-nos a uma reflexão das ameaças desses Habitats naturais e seminaturais bem como espécies de flora e fauna ameaçadas e com elevado interesse científico.
Proença et al (2009) revela que Portugal é uma região de elevada biodiversidade com diversas espécies e habitats onde "inclui também os arquipélagos dos Açores e Madeira região (...), da Macaronésia".
Esta biodiversidade tem uma diversidade de tipologias de ecossistemas que são considerados hotspots para biodiversidade, pelas suas qualidades por excelência para a vivência de um elevado número de espécies, como são exemplo os Lagos tropicais e as zonas húmidas (Myers, 1996).
As ameaças de uma forma geral estão associadas a fatores analogos, contudo as ações de erradicação, devem ser avaliados de acordo com as carateristicas de cada ecossistema. Os Açores, segundo Paulo Borges, da Universidade dos Açores, " devem o seu potencial ao facto de terem ainda alguns dos habitats mais bem preservados da Europa". De registar que das mais de 400 espécies endémicas dos Açores, cerca
de 90 % são invertebrados, uma percentagem superior à verificada a nível global.
Esta constatação, aliada às condições edafo-climáticas e de insularidade de alguns locais, favorecem o endemismo de espécies, e os Açores são um bom exemplo. A insularidade do arquipélago, origina características únicas de habitats e por conseguinte particularidades nas suas espécies, levando à existência de hotspots de Biodiversidade como é o caso aqui já referido, do Pico alto na ilha de Santa Maria.
Contudo, estes ecossistemas, são locais propícios para a concentração de biodiversidade e a possibilidade de endemismos, encontram-se cada vez mais ameaçados, directa ou indiretamente pela ação antropogénica. Deste modo a preocupação com os impactos negativos destes sobre os ecossitemas, despertam consciências para a importância da sua conservação.
Todavia as ameaças e alterações verificadas associadas a fatores de demografia, economia, fatores sociopoliticos, culturais e religiosos, científicos e tecnológicos (in Millennium Ecosystem Assessment, 2005), originaram o aumento exponencial da população mundial, consequentemente a proliferação e ocupação de terrenos não urbanizados, de elevada importância Biológica (e.g zonas costeiras, de ecossistemas das Zonas Húmidas), conduzindo à ameaça da sua biodiversidade, ainda acompanhada por vezes da proliferação de espécies invasoras.
Segundo Proenca et al (2009) define "espécies invasoras por espécies introduzidas (espécies não nativas) que conseguem obter sucesso reprodutor e colonizar áreas afastadas do local onde foram inicialmente introduzidas, provocando muitas vezes modificações e desequilíbrios nos ecossistemas invadidos (Mooney e Hobbs, 2000)." (pag: 139)
Em Portugal, a expansão de espécies invasivas está a ameaçar a biodiversidade nativa sendo já um grave problema ambiental (Almeida e Freitas, 2001). De acordo com o Decreto-Lei n.º 565/99 de 21 de Dezembro, 400 espécies de plantas são consideradas introduzidas das quais 27 são invasoras. Das espécies invasoras que afectam presentemente os ecossistemas portugueses destacam-se ", as espécies do género Acácia, a Azolla sp., o chorão-das praias (Carpobrotus edulis) e o jacinto-de-água (Eichornia crassipes) (Almeida e Freitas, 2001; Marchante e Marchante, 2006a). Estas espécies têm tido impactos negativos sobre a biodiversidade nativa local. (apud Proenca et al 2009)
Emerge assim a necessidade cada vez maior de monitorização e o controle da expansão destas espécies, para garantir a integridade dos ecossistemas e a conservação das espécies nativas que com elas coexistem, com maior relevância num atual contexto de alterações climáticas. Não apenas as espécies já consideradas invasoras, como também outras espécies introduzidas mas ainda sem capacidade de invasão, podem ver o seu crescimento populacional e dispersão favorecidos perante as novas condições. (Proenca et al 2009)
Dubley et al (2007), propôs sistemas de certificação através da criação de listas em sites sobre " património mundial em perigo"; "de Sítios Ramsar", para comparação e avaliação, e desenvolver sistemas padronizados nestas áreas com acesso global.
Largos passos se tem dado junto da comunidade cientifica, despontando cada vez mais publicações nesta área, segundo a Conservation International, ao longo dos últimos anos o caso da zona do Pico Alto, na ilha de Santa Maria, é exemplo destes trabalhos, designado de hotspot de biodiversidade, alvo de estudo por diferentes investigadores internacionais e regionais, associado a estes, o Governo Regional, decreta como área protegida para gestão de habitats e espécies (Decreto Legislativo Regional n.º 47/2008/A de 7 de Novembro, alterado e republicado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 39/2012 de 19 de Setembro), ressalvando assim a biodiversidade existente e a sua importância de conservação na temática dos endemismos dos Açores.
Ainda, segundo Borges, P. & Gabriel, R. (2009). Predicting extinctions on oceanic islands: arthropods and bryophytes / Estimar extinções em ilhas oceânicas: artrópodes e briófitos., a zona do Pico Alto (S. Maria) é um dos principais locais de biodiversidade dos Açores, nomeadamente, com quatro espécies de escaravelhos endémicos que representam o caso mais notável de especiação na fauna de artrópodes do Açores, com quatro espécies diferentes vivendo no mesmo pequeno fragmento, e uma das áreas mais importantes para a conservação dos briófitos na ilha de Santa Maria.
No entanto, esta biodiversidade merece alguma preocupação, uma vez que a área do Pico Alto e circundante possui flora infestante, que devido à suas características tendem a superar a flora endémica e autóctone, à qual a fauna particular deste local se associa, a fauna infestante mais comum é a Conteira (ou Roca-da-velha) - Hedychium gardneranum e o Incenso - Pittosporum undulatum.
O Governo Regional dos Açores, implementou vários projectos internacionais com ações de conservação de plantas endémicas e consequente conservação dos habitats em que eles se integram, a necessidade e relevância de ações na remoção de espécies invasoras, nomeadamente o PRECEFIAS (Plano Regional de Erradicação e Controlo de Espécies de Flora Invasora em Áreas Sensíveis) com a reposição de flora endémica.
No caso da Ilha de Santa Maria a área do Pico Alto tem-se desenvolvido o combate direccionado ao Pittosporum undulatum e ao Hedychium. gardnerianum, uma vez que são estas invasoras que estão a degradar o habitat crítico da espécie alvo, P. azorica, e por conseguinte o habitat crítico de todo um rol de organismos associados à Floresta Laurissilva em que esta espécie se enquadra e portanto a ela associados
Estas acções de protecção vão de encontro à bibliografia Millennium Ecosystem Assessement (2005), a qual indica diversas formas de alteração das ameaças inerentes à biodiversidade.
Importa referir que a metodologia aplicada segundo dados disponibilizados pela diretora do Parque Natural, permitiram obter os melhores resultados.
Assim, foi adequado uma metodologia de acordo com o ecossiatema, e as espécies existentes. Deste modo não se induziu alterações bruscas no habitat e no regime de luz, para não ter impatos o negativas para a população de P. azorica, o combate foi feito por manchas, de modo a proceder-se a uma abertura gradual no povoamento. Foram introduzidos reforços da população com novas plantas (com material vegetativo proveniente desta mesma população) para evitar uma nova invasão por parte das espécies invasoras.
Esta ação é fundamental para a recuperação da vegetação nativa da ilha mais antiga dos Açores e consequentemente manutenção de um ecossistema único no arquipélago.
Estes métodos aplica-se o controlo físico, o arranque e transporte para vazadouro, com destruição evitando a propagação das sementes e nas árvores adultas efetuaram-se cortes em todo o perímetro do tronco com catana e/ou motoserra de uma faixa com cerca de 15 centímetros em todas as árvores de 10 ou mais centímetros de diâmetro, para interrupção do câmbio vascular, estes trabalhos são acompanhados de algum controlo químico nomeadamente a pulverização com glifosato e pincel.
Em suma as ameaças da biodiversidade remetem-nos para uma reflexão emergente das ações humanas, é urgente evitar a destruição de habitats e a extinção de espécies . A emergência dum enquadramento legislativos a nível internacional, regional e local, só por si não minimiza os impato negativos nestes recursos naturais, necessitamos de implementar estratégias, de mudanças no uso e cobertura vegetal, introduzir e
remover espécies de flora invasora, evitar a sobreexploração, a poluição, as alterações climáticas e as causas antropogénicas, na promoção da sustentabilidade da biodiversidade.
Bibliografia:
Borges, P.A.V., Cunha, R., Gabriel, R., Martins, A.F., Silva, L. & Vieira, V. (eds.), (2005). A list of the terrestrial fauna (Mollusca and Arthropoda) and flora (Bryophyta, Pteridophyta and Spermatophyta) from the Azores.Direção Regional do Ambiente and Universidade dos Açores, Horta, Angra do Heroísmo and Ponta Delgada.
Borges, P. & Gabriel, R. (2009). Predicting extinctions on oceanic islands: arthropods and bryophytes, Universidade dos Açores, Horta, Angra do
Heroísmo and Ponta Delgada
Borges, P.A.V., Costa, A., Cunha, R., Gabriel, R., Gonçalves, V., Martins, A.F., Melo, I., Parente, M.,Raposeiro, P., Rodrigues, P., Santos, R.S., Silva, L., Vieira, P. & Vieira, V. (Eds.) (2010). A list of the terrestrial and marine biota from the Azores. Princípia, Oeiras, 432 pp
DUDLEY, Nigel , HOCKINGS Marc & STOLTON Sue (2004) Options For Guaranteeing the Effective Management of the World's Protected
Areas, Journal of Environmental Policy & Planning, 6:2, 131-142,
Impacts of Biodiversity. Conservation International. Disponível em https://www.conservation.org/where/priority_areas/hotspots/Pages/impact_of_hotspots.aspx. Acedido a 15 de abril de 2014,
Millennium Ecosystem Assessment (2005). Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC,
Myer, Normen. (1996), Biodiversity II. The rich diversity of biodiversity issues, Oxford university, whashington DC: 125-138,
Portal da biodiversodade da universidadde do Açores no site: https://www.azoresbioportal.angra.uac.pt/listagens.php?lang=pt&sstr=4&id=F00360, acedido a 15.04.2014,
Precefias acedido no site : https://www.azores.gov.pt/Gra/srrn-natureza/conteudos/projectos/2012/Abril/PRECEFIAS.htm?lang=pt&area=ct,
15-4-2014.
Proença, V. et al. (2009) Biodiversidade in "Ecossistemas e Bem-estar humano - Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment" Escolar Editora
Ler mais