A biodiversidade, conservação e preservação na ilha de Santa Maria, Açores.

25-03-2014 23:37

A biodiversidade deve ser entendida como um conceito evolutivo ao longo dos tempos (Lovejoy, 1996),
para tal temos de aprender, ou reaprender, a viver sem ganância da propriedade.

Os desequilíbrios nos ecossistemas terrestres, com diminuição da biodiversidade, a proliferação de espécies
exóticas, algumas das quais infestantes são preocupações dos responsáveis pela preservação deste património natural.

Nos Açores emerge a necessidade de proteger áreas, reservas naturais, acompanhadas de uma melhoria
dos modelos de gestão, a reintrodução de espécies autóctones, de combater as infestantes, a criação de um quadro legal adequado acompanhado de fiscalização e mecanismo de monitorização, e a educação ambiental são sem dúvida medidas de atuação na visão desta estratégia. Mas para preservar há que conhecer o local
todo o meio que o rodeia e a melhor forma de preservar sem danificar a multiplicidade biológica do ecossistema.

Nas últimas décadas deram-se largos passos na preservação e conservação. Desde a década 70 a convenção de Ramsar, sobre Zonas Húmidas de Importância Internacional, a declaração de Estocolmo da Conferência das Nações Unidas, sobre a proteção de exemplos representativos da maioria dos ecossistemas existentes é uma necessidade fundamental para os programas nacionais de conservação, a Convenção CITES, que definiu mecanismos para regular a comercialização de espécies de flora e fauna ameaçadas de extinção, e a Convenção sobre a Vida Selvagem e os Habitats Naturais (Convenção de Berna), com objetivos de conservar a flora e a fauna selvagens e os seus habitats naturais.

Emerge na década 80, a IUCN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que criou a Estratégia Mundial para a Conservação, alertando para o perigo das pressões exercidas sobre os sistemas biológicos mundiais e contribuindo para a elaboração de políticas mais adequadas.

Desde então, a proteção de ecossistemas representativos, tem sido apoiada por resoluções importantes das Nações Unidas, como a World Charter for Nature (Carta Mundial da Natureza, 1982), a Declaração do Rio, na Cimeira da Terra (1992) e a Declaração de Joanesburgo (2002). No Protocolo de Biossegurança de Cartagena, em 2000, a Comunidade Europeia, com a finalidade de proteger e melhor gerir o seu património natural, fortaleceu a sua política ambiental de conservação da natureza.

O governo regional acolheu as estratégias nesta área, emergindo estabelecendo Zonas de Proteção
Especial (ZPE). Inicialmente em 15 ZPE. Em relação à preservação dos habitats naturais, da flora e de faunas selvagens (terrestres e marinhas) reconhecida pela diretiva "Aves". Os Açores identificaram 23 ZEC e 2 SIC Zonas Especiais de Conservação.

Estas zonas constituem uma rede europeia de áreas ecológicas protegidas, denominada "Rede Natura 2000", denominado por um conjunto de sítios com interesse ecológico, coerente e global no espaço da União Europeia.

A Ilha de Santa Maria é um santuário de biodiversidade, com particularidades, endemismos surgidos da
descontinuidade geográfica e do tempo de ausência de qualquer contato exterior, que deliciam quem se dispõem palmilhar a ilha no seu encalço, urge a necessidade de conhecer o habitat a biodiversidade para implementar um plano estratégico.



O Pico Alto é uma área protegida para a gestão de habitats ou espécies da Ilha de Santa Maria. Tem sido alvo de um grande interesse cientifico por parte da Universidade dos Açores liderados pelo professor Paulo Borges, em  parceria com o Parque Natural de Santa Maria outras entidades publicas Ongas, voluntários, tem- se desenvolvido ações de preservação do ecossistema existe.

O Pico Alto é uma área protegida com uma importante mancha da vegetação Laurissilva, encontrando-se espécies tais como o louro (Laurus azorica), o azevinho (Ilex azorica), a uva-da-serra (Vaccinium cylindraceum), o pau-branco (Picconia azorica), o folhado (Viburnum treleasei) e a urze (Erica azorica). O Pico Alto constitui uma das zonas dos Açores com maior diversidade única.
 Trata-se de um dos "Hotspots" de diversidade do arquipélago, onde existem artrópodes exclusivos de Santa Maria e particularmente do Pico Alto (e.g. Athous pomboi, Donus multifidus, Tarphius pomboi, Tarphius
serranoi).

Recentemente houve uma descoberta de uma nova espécie para a área protegida do Pico Alto,
uma espécie endémica, o caracol - Oxychilus (Drouetia) viridescens Martins, Brito & Backeljau, 2013. Com esta descoberta, aumenta o endemismo da Área Protegida para Gestão e Habitats ou Espécies do Pico Alto,
fomentando assim a importância da sua preservação e conservação.

Contudo algumas infestantes poem em risco esta biodiversidade, no âmbito dos projetos "PRECEFIAS",
"Mais endémicas",  e mais dinamizou-se intervenções de reflorestação e de limpeza contra espécies invasoras

Voluntários do Centro de Saúde de Vila do Porto e familiares, no âmbito do Programa "Mais
Endémicas", plantaram espécies de flora endémica na Área Protegida para Gestão de Habitats e Espécies do Pico Alto. Ainda a Secretaria Regional dos Recursos Naturais, através do Parque Natural da ilha mariense, remoção de flora invasora e consequente reflorestação com flora endémica de altitude caraterística do Pico Alto, tais como o louro da terra, a uva da serra, o folhado e o azevinho.

A flora endémica dos Açores oferece condições favoráveis para a subsistência das espécies de coleópteros, moluscos e aracnídeos endémicas do Pico Alto, pelo que a remoção de flora invasora e sua substituição por flora endémica favorecerá o aumento da fauna exclusiva do local.
 

As florestas nativas dos Açores têm sido invadidas devido à introdução de espécies de flora estranhas aos ecossistemas locais, o que dificulta a sobrevivência daflora endémica e autóctone, reduzindo também o habitat natural das espécies de animais endémicos.Através do programa PRECEFIAS (Plano Regional de Controlede Flora Invasora em Áreas Sensíveis), numa pequena área do Pico Alto, tendo-se então removido
essencialmente conteiras e incenso com recurso a combate mecânico e químico.




E porque a biodiversidade não é só fauna ou flora o Cagarro Calonectris diomedea borealisIlhas
existe em  todas as ilhas, ao abrigo do estatuto de conservação,  a população apresenta alguma preocupação, sendo uma subespécie protegida pela Diretiva Aves, Só vem a terra para se reproduzir e, nos Açores, concentram-se 180 mil casais, 4/5 da população europeia desta subespécie. É vulnerável porque tem a sua distribuição restrita ao Atlântico e Mediterrâneo. É uma ave com interesse comunitário cuja
conservação requer a designação de Zonas de Proteção Especial.

No âmbito da Campanha SOS Cagarro, surgiu no âmbito do projeto LIFE Conservação das Comunidades de
Aves Marinhas dos Açores (1995-1998), teve como objetivo o salvamento de juvenis desta ave marinha e a sensibilização da população açoriana para a necessidade da sua preservação, devido a predação animal e humana, das quedas por encadeamentos. A conservação da natureza é da responsabilidade dos Vigilantes da Natureza, envolve diversas
entidades.

Em suma para implementar e desenvolver políticas sustentáveis que visem a conservação da biodiversidade é essencial que se desenvolva segundo Araújo, 1998"(...)uma clarificação de conceitos (...) necessários, para a construção de processos de avaliação da biodiversidade (...), explícitos e defensáveis". Mas também deve apostar na investigação cientifica para conhecer os locais e áreas para assegurando a  melhor metodologia nas estratégias de conservação e preservação.  

Bibliografia

Araújo, Miguel (1998) Avaliação da biodiversidade em conservação, Silva Lusitana 6 (1), 19-40 EFN, Lisboa Portugal;

Borges, P.A.V., Cunha, R., Gabriel, R., Martins, A.F., Silva, L. & Vieira, V. (eds.), (2005). A list of the terrestrial fauna (Mollusca and Arthropoda) and flora (Bryophyta, Pteridophyta and Spermatophyta) from the Azores.Direção Regional do Ambiente and Universidade dos Açores;

Borges, Paulo. A.V. Coleópteros - Pico Alto - Um "Hotspot" de Biodiversidade. Grupo da Biodiversidade dos Açores. Universidade dos Açores.

Lovejoy, T. (1996) "Biodiversity: what is it?" In Biodiversity II

Decreto Legislativo Regional n.º 15/2012/A, Diário da República, 1.ª série - nº66 de 2 de abril de 2012, Regime jurídico da conservação da natureza e da proteção da biodiversidade. Transpõe para o ordenamento jurídico regional a Diretiva n.º 92/43/CEE, do conselho, de 21 de Maio de 1992, relativa à preservação dos habitats naturais e da fauna e da flora selvagens, e a Diretiva n.º 2009/147/CE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 30 de novembro de 2009, relativa à conservação das aves selvagens

Schäfer, H., (2002). Flora of the Azores, A field guide. Weikersheim, Margraf Verlag, 264 p.

Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Sentir e Interpretar o Ambiente dos Açores. Flora dos Açores. Flora Vascular acedido no site : https://www.siaram.azores.gov.pt/ a 25.03.2014

Parques Naturais dos Açores:, acedido no site: https://parquesnaturais.azores.gov.pt
a 25.03.2014

Portal da Biodiversidade dos Açores, acedido no site  https://www.azoresbioportal.angra.uac.pt
a 25.03.2014


Tópico: A biodiversidade, conservação e preservação na ilha de Santa Maria, Açores.

Data: 07-04-2014

De: Paula Nicolau

Assunto: A biodiversidade, conservação e preservação na ilha de Santa Maria, Açores

Maria,
Esta é uma abordagem muito boa sobre o tópico da conservação da biodiversidade num local particular.
A introdução ao tema com os 3 parágrafos iniciais faz o resumo essencial dos processos envolvidos na conservação e preservação da biodiversidade. PBN

Data: 26-03-2014

De: Marta Cunha

Assunto: Biodiversidade

Cara Maria

Gosto da maneira com tens direcionado o teu BLOG para a Ilha de Santa, sendo percetível o quanto admiras a tua Ilha.

Mencionaste alguns aspetos que importa realçar, como as Campanhas e Programas de Conservação e Preservação da Biodiversidade.
A Nível de Fauna nomeaste e muito bem a Campanha SOS Cagarro, a nível de Flora o Programa Mais Endémicas e o Precefias.
Estes são programas que têm um papel fundamental na preservação e conservação das espécies e incentivam a participação da comunidade.
A comunidade torna-se um fator chave para que estes programas e campanhas têm sucesso, o que se tem vindo a verificar nos Açores.

Data: 26-03-2014

De: Anabela Silva

Assunto: Biodiversidade

Olá Maria.

Antes demais PARABENS pelo teu BLOG.
As Noticias são um adereço bastante interessante dão grande dinamismo ao teu BLOG :)

Relativamente ao tema BIODIVERSIDADE, na Ilha de Santa Maria, fizeste uma abordagem interessante e inovadora, para dar a conhecer o Parque Natural e em especifico o Pico Alto.

É Interessante perceber que esta é uma área privilegiada em termos de biodiversidade e onde proliferam diversas espécies endémicas.

Concordo e acho muito importante o desenvolvimento de estudos por parte de entidades, como a Universidade dos Açores e o Governo dos Açores.
O interesse Cientifico que estas entidades demonstram por estas áreas deve ser incentivado e acompanhado por todos nós.
Só assim temos conhecimento da diversidade de espécies existentes e temos a real noção do que devemos preservar e conservar estes ecossistemas.

Continuação de Bom Trabalho.


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