Ameaças à biodiversidade

15-04-2014 22:02

Depois de identificado o valor da Biodiversidade,  e diversidade existente de flora e fauna, obriga-nos a uma reflexão  das  ameaças desses Habitats naturais e seminaturais bem como espécies de flora e fauna ameaçadas e com elevado interesse científico.

Proença et al (2009) revela que  Portugal é uma região de elevada biodiversidade com  diversas espécies e habitats onde "inclui também os arquipélagos dos Açores e Madeira região (...), da Macaronésia".

Esta biodiversidade tem uma diversidade  de tipologias de ecossistemas que são considerados hotspots para biodiversidade, pelas suas qualidades por excelência para a vivência de um elevado número de espécies, como são exemplo os Lagos tropicais e as zonas húmidas (Myers, 1996).

As ameaças de uma forma geral estão associadas a fatores analogos, contudo as ações de erradicação, devem ser avaliados de acordo com as carateristicas de cada ecossistema. Os Açores,  segundo Paulo Borges,  da Universidade dos Açores, " devem o seu potencial ao facto de terem ainda alguns dos habitats mais bem preservados da Europa".  De registar que das mais  de 400 espécies endémicas dos Açores, cerca
de 90 % são invertebrados, uma percentagem superior à verificada a nível global.

Esta constatação, aliada às condições edafo-climáticas e de insularidade de alguns locais, favorecem o endemismo de espécies, e os Açores são um bom exemplo. A insularidade do arquipélago, origina características únicas de habitats e por conseguinte particularidades nas suas espécies, levando à existência de hotspots de Biodiversidade  como é o caso aqui já referido, do Pico alto na ilha de Santa Maria.

Contudo, estes ecossistemas, são locais propícios para a concentração de biodiversidade e a possibilidade de endemismos, encontram-se cada vez mais ameaçados, directa ou indiretamente pela ação antropogénica. Deste modo a preocupação  com os impactos negativos destes sobre os ecossitemas, despertam consciências para a importância da sua conservação.

Todavia as ameaças e alterações verificadas associadas a fatores de demografia, economia, fatores sociopoliticos, culturais e religiosos, científicos e tecnológicos (in Millennium Ecosystem Assessment, 2005), originaram   o aumento exponencial da população mundial, consequentemente a proliferação e ocupação de terrenos não urbanizados, de elevada importância Biológica (e.g  zonas costeiras, de  ecossistemas das Zonas Húmidas), conduzindo à ameaça da sua biodiversidade, ainda acompanhada por vezes da proliferação de espécies invasoras.

Segundo Proenca et al (2009) define "espécies invasoras  por espécies introduzidas (espécies não nativas) que conseguem obter sucesso reprodutor e colonizar áreas afastadas do local onde foram inicialmente introduzidas, provocando muitas vezes modificações e desequilíbrios nos ecossistemas invadidos (Mooney e Hobbs, 2000)." (pag: 139)

Em Portugal, a expansão de espécies invasivas está a ameaçar a biodiversidade nativa sendo já um grave problema ambiental (Almeida e Freitas, 2001). De acordo com o Decreto-Lei n.º 565/99 de 21 de Dezembro, 400 espécies de plantas são consideradas introduzidas das quais 27 são invasoras. Das espécies invasoras que afectam presentemente os ecossistemas portugueses destacam-se ", as espécies do género Acácia, a Azolla sp., o chorão-das praias (Carpobrotus edulis) e o jacinto-de-água (Eichornia crassipes) (Almeida e Freitas, 2001; Marchante e Marchante, 2006a). Estas espécies têm tido impactos negativos sobre a biodiversidade nativa local.  (apud Proenca et al 2009)  

Emerge assim a necessidade  cada vez maior de monitorização e o controle da expansão destas espécies,  para garantir a integridade dos ecossistemas e a conservação das espécies nativas que com elas coexistem, com maior relevância num atual contexto de alterações climáticas. Não apenas as espécies já consideradas invasoras, como também outras espécies introduzidas mas ainda sem capacidade de invasão, podem ver o seu crescimento populacional e dispersão favorecidos perante as novas condições. (Proenca et al 2009) 

Dubley et al (2007), propôs sistemas de certificação através da criação de listas em sites sobre " património mundial em perigo"; "de Sítios Ramsar", para comparação e avaliação, e desenvolver sistemas padronizados nestas áreas com acesso global.

Largos passos se tem dado junto da comunidade cientifica, despontando cada vez mais publicações nesta área, segundo a Conservation International, ao longo dos últimos anos o caso da zona do Pico Alto, na ilha de Santa Maria, é exemplo destes trabalhos, designado de hotspot de biodiversidade, alvo de estudo por diferentes investigadores internacionais e regionais, associado a estes, o Governo Regional, decreta como área protegida para gestão de habitats e espécies (Decreto Legislativo Regional n.º 47/2008/A de 7 de Novembro, alterado e republicado pelo Decreto Legislativo Regional n.º 39/2012 de 19 de Setembro), ressalvando assim a biodiversidade existente e a sua importância de conservação na temática dos endemismos dos Açores.

Ainda, segundo Borges, P. & Gabriel, R. (2009). Predicting extinctions on oceanic islands: arthropods and bryophytes / Estimar extinções em ilhas oceânicas: artrópodes e briófitos., a zona do Pico Alto (S. Maria) é um dos principais locais de biodiversidade dos Açores, nomeadamente, com quatro espécies de escaravelhos endémicos que representam o caso mais notável de especiação na fauna de artrópodes do Açores, com quatro espécies diferentes vivendo no mesmo pequeno fragmento, e uma das áreas mais importantes para a conservação dos briófitos na ilha de Santa Maria.

No entanto, esta biodiversidade merece alguma preocupação, uma vez que a área do Pico Alto e circundante possui flora infestante, que devido à suas características tendem a superar a flora endémica e autóctone, à qual a fauna particular deste local se associa, a fauna infestante mais comum é a Conteira (ou Roca-da-velha) - Hedychium gardneranum e o Incenso - Pittosporum undulatum.


O Governo Regional dos Açores, implementou vários projectos internacionais com ações de conservação de plantas endémicas e consequente conservação dos habitats em que eles se integram, a necessidade e relevância de ações na remoção de espécies invasoras, nomeadamente o PRECEFIAS (Plano Regional de Erradicação e Controlo de Espécies de Flora Invasora em Áreas Sensíveis) com a reposição de flora endémica.

No caso da Ilha de Santa Maria a área do Pico Alto tem-se desenvolvido o combate direccionado ao Pittosporum undulatum  e ao Hedychium. gardnerianum, uma vez que são estas invasoras que estão a degradar o habitat crítico da espécie alvo, P. azorica, e por conseguinte o habitat crítico de todo um rol de organismos associados à Floresta Laurissilva em que esta espécie se enquadra e portanto a ela associados

Estas acções de protecção vão de encontro à bibliografia Millennium Ecosystem Assessement (2005), a qual indica diversas formas de alteração das ameaças inerentes à biodiversidade.

Importa referir que a metodologia aplicada segundo dados disponibilizados pela diretora do Parque Natural, permitiram obter os melhores resultados.

Assim, foi adequado uma metodologia de acordo com o ecossiatema, e as espécies existentes. Deste modo não se induziu alterações bruscas no habitat e no regime de luz, para não ter impatos o negativas para a população de P. azorica, o combate foi feito por manchas, de modo a proceder-se a uma abertura gradual no povoamento. Foram introduzidos reforços da população com novas plantas (com material vegetativo proveniente desta mesma população) para evitar uma nova invasão por parte das espécies invasoras.

Esta ação é fundamental para a recuperação da vegetação nativa da ilha mais antiga dos Açores e consequentemente manutenção de um ecossistema único no arquipélago.

Estes métodos aplica-se o controlo físico, o arranque e transporte para vazadouro, com destruição evitando a propagação das sementes e nas  árvores adultas efetuaram-se cortes em todo o perímetro do tronco com catana e/ou motoserra de uma faixa com cerca de 15 centímetros em todas as árvores de 10 ou mais centímetros de diâmetro, para interrupção do câmbio vascular, estes trabalhos são acompanhados de algum controlo químico nomeadamente a pulverização com glifosato e pincel.

Em suma as ameaças  da biodiversidade remetem-nos para uma reflexão emergente das ações humanas, é  urgente evitar a destruição de habitats e a extinção de espécies . A emergência dum enquadramento legislativos a nível internacional, regional e local, só por si não minimiza os impato negativos nestes recursos naturais, necessitamos de implementar estratégias, de mudanças no uso e cobertura vegetal, introduzir e
remover espécies de flora invasora, evitar a sobreexploração, a poluição, as alterações climáticas e as causas antropogénicas, na promoção da sustentabilidade da biodiversidade.


Bibliografia:

Borges, P.A.V., Cunha, R., Gabriel, R., Martins, A.F., Silva, L. & Vieira, V. (eds.), (2005). A list of the terrestrial fauna (Mollusca and Arthropoda) and flora (Bryophyta, Pteridophyta and Spermatophyta) from the Azores.Direção Regional do Ambiente and Universidade dos Açores, Horta, Angra do Heroísmo and Ponta Delgada.

Borges, P. & Gabriel, R. (2009). Predicting extinctions on oceanic islands: arthropods and bryophytes,  Universidade dos Açores, Horta, Angra do
Heroísmo and Ponta Delgada

Borges, P.A.V., Costa, A., Cunha, R., Gabriel, R., Gonçalves, V., Martins, A.F., Melo, I., Parente, M.,Raposeiro, P., Rodrigues, P., Santos, R.S., Silva, L., Vieira, P. & Vieira, V. (Eds.) (2010). A list of the terrestrial and marine biota from the Azores. Princípia, Oeiras, 432 pp

DUDLEY, Nigel , HOCKINGS Marc & STOLTON Sue (2004) Options For Guaranteeing the Effective Management of the World's Protected
Areas, Journal of Environmental Policy & Planning, 6:2, 131-142,

Impacts of Biodiversity. Conservation International. Disponível em https://www.conservation.org/where/priority_areas/hotspots/Pages/impact_of_hotspots.aspx. Acedido a 15 de abril de 2014,

Millennium Ecosystem Assessment (2005). Ecosystems and Human Well-being: Biodiversity Synthesis. World Resources Institute, Washington, DC,

Myer, Normen. (1996),  Biodiversity II. The rich diversity of biodiversity issues, Oxford university, whashington DC: 125-138,

Portal da biodiversodade da universidadde do Açores no site: https://www.azoresbioportal.angra.uac.pt/listagens.php?lang=pt&sstr=4&id=F00360, acedido a 15.04.2014,

Precefias acedido no site : https://www.azores.gov.pt/Gra/srrn-natureza/conteudos/projectos/2012/Abril/PRECEFIAS.htm?lang=pt&area=ct,
15-4-2014.

Proença, V. et al. (2009) Biodiversidade in "Ecossistemas e Bem-estar humano - Avaliação para Portugal do Millennium Ecosystem Assessment" Escolar Editora






 
 
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
  
 



Tópico: Ameaças à biodiversidade

Data: 21-04-2014

De: Cristina Correia

Assunto: Ilha de Santa Maria

Olá Maria,

O teu blogue tem sido muito útil para mim, tenho agora outra noção da Ilha de Santa Maria. Infelizmente, no Continente há uma ideia muito depreciativa desta ilha, há 8 anos pretendi conhecer o grupo oriental dos Açores, contatei diversas agências para conhecer as promoções. Não existiam grandes promoções e uma ideia ficou patente em todas elas, o grupo oriental não valia a pena, acabei por visitar São Miguel e Flores para perceber um pouco as diferenças entre grupos. Infelizmente continua esta ideia de valorização de algumas ilhas em deterimento de outras. A biodiversidade está presente em todas as ilhas.

Cristina

Data: 21-04-2014

De: Maria

Assunto: Re:Ilha de Santa Maria

Olá Cristina

Pretendo com este blogue apresentar os temas em análise, mas sempre que possível quero dar a conhecer os Açores, em especial a minha Ilha, porque tal como referes é uma verdade os Açores para a maioria dos portugueses são 3 ilhas, São Miguel, Terceira e Horta.

Todavia o grande problema dos centros políticos e de gestão estarem centralizados nas mesmas, e a própria dimensão das ilhas, limita ainda mais as ilhas periféricas que é o caso da Ilha de Santa Maria
.
Penso também que é nossa responsabilidade promover o que é nosso, não esquecendo nunca a nossa biodiversidade, geodiversidade , e conservação existente nos Açores, que considero ainda um berço de recursos ambientais. Isto porque a industrialização a construção cível e outras atividades, tem um crescimento quase nulo, (nas ilhas pequenas), o que neste caso beneficia os recursos naturais.

Contudo, tem-se apostado mais no turismo natureza e os Açores tem sido reconhecidos internacionalmente por isso mesmo. Todavia as ilhas embora já tenham uma grande adesão por parte de turistas estrangeiro, o nacional esquece um pouco o belo que temos dentro de portas.

Considerando, que esta procura ainda é recente, temos que estar despertos para o crescimento, sempre atentos à preservação e conservação do ambiente e dos recursos existentes, para que não aconteca a massificação do turismo, casos registados em outras ilhas e países.

Todos sabemos que o crescimento é bom para o desenvolvimento, e devemos pautar para que isto aconteça, e como mariense defendo o mesmo desde que este se faça nos padrões da sustentabilidade, e pretendo ao longo do semestre tentar dignificar e desmitificar, que os Açores são muitos bonitos, e vale a pena conhecermos o que é nosso.
Maria

Data: 20-04-2014

De: Maria

Assunto: Ameaças biodiversidade

Boa tarde Fabiana
As espécies exóticas sem dúvida são um flagelo na preservação dos ecossistemas dos açores . A hortênsia pode ser um exemplo muito ilustrativo, que muitos consideram de uma beleza rara, mas para a comunidade científica há quem define como um infestaste.
O alargamento de Portugal à UE foi sem dúvida a livre circulação de pessoas e bens, e as restrições foram menos restritivas na circulação de sementes e plantas que de algum modo facilitou a entrada de novas espécies.
A legislação tem sido cada vez mais preventiva, as fronteiras tem que ser mais fiscalizadas, contudo devido as espécies fazerem parte já dos ecossistemas, há que criar medidas de mitigação e erradicação de forma a minimizar os impacto e o alastramento a novos habitas, e sem dúvida o Precefias tem sido um projeto que de alguma forma, tem minimizado o alastramento destas espécies a habitats vizinhos, diminuído a propagação a novos ecossistemas.
Maria

Data: 20-04-2014

De: Fabiana

Assunto: Ameaças à Biodiversidade

Boa tarde Maria
No caso da RAA, a principal ameaça à biodiversidade da regional é a introdução de plantas exóticas. Nos Açores estão identificadas 800 plantas invasoras.
Em 2013, a Comissão Europeia propôs na passada uma nova legislação destinada a prevenir e a gerir a ameaça crescente que representam as espécies invasoras. Existem atualmente na Europa mais de 12 000 espécies que não pertencem ao habitat natural.
A proposta centra-se em torno de uma lista de espécies exóticas invasoras preocupantes para a União, que será elaborada em conjunto com os Estados-Membros, com base em avaliações de risco e provas científicas. As espécies selecionadas serão banidas da UE, deixando de ser possível importá-las, comprá-las, utilizá-las, libertá-las ou vendê-las. Serão adotadas medidas especiais para fazer frente aos problemas que se colocam aos comerciantes, criadores ou aos proprietários de animais de estimação durante o período de transição.
A proposta preconiza três tipos de intervenção:
• Prevenção: os Estados-Membros organizarão controlos para prevenir a introdução deliberada das espécies em questão. No entanto, numerosas espécies entram na UE de forma não intencional, como contaminantes de mercadorias ou viajando em contentores. Os Estados-Membros terão de agir a fim de identificar estas vias de introdução e adotar medidas corretivas.
• Alerta precoce e resposta rápida: quando os Estados-Membros detetam que uma espécie preocupante para a União está a implantar-se, devem tomar medidas imediatas para a erradicar.
• Gestão das espécies exóticas invasoras preocupantes já implantadas: no caso das espécies preocupantes para a União que já se propagaram, os Estados-Membros devem adotar as medidas necessárias para minimizar os danos por elas ocasionados.
A proposta preconiza uma reorientação para uma abordagem mais preventiva e harmonizada, a fim de aumentar a eficácia e, a longo prazo, reduzir os custos dos prejuízos e os custos das intervenções.

Fonte:
https://www.correiodosacores.info/index.php/destaque-principal/2392-introducao-de-plantas-exoticas-e-o-principal-factor-da-perda-da-biodiversidade-nos-acores
https://www.publico.pt/ecosfera/noticia/bruxelas-propoe-nova-legislacao-para-travar-especies-invasoras-1605284
https://europa.eu/rapid/press-release_IP-13-818_pt.htm

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